Essa foi uma das observações feitas num debate em torno da violência cibernética contra mulheres, realizada na última sexta-feira em Maputo, pelo movimento de jovens feministas, MOVFEMME.
De acordo com Maria José Artur, da WLSA, uma das participantes do debate, os crimes de violência contra a mulher estão com um novo suporte nas redes sociais porque permitem que sejam cometidos a distância sem que sejam sancionados.
Um dos exemplos dados foi da cantora moçambicana Júlia Mwito que teve sua intimidade exposta, quando em 2016, vazou na internet, sua imagem semi-nua e, num curto período de tempo teve milhões de compartilhamentos.
Essa exposição aconteceu exactamente numa altura em que a vítima acabava de ser nomeada Directora Provincial de Meio Ambiente, Terra e Desenvolvimento Rural de Gaza. Portanto a interpretação que se fez é que o objectivo da acção era desprestigiar a cantora, manchando sua reputação.
Tal como Júlia Mwito, diariamente algumas mulheres são vítimas de comentários ofensivos nas redes sociais apenas por partilharem suas fotos ou seus pontos de vista em relação a um determinado assunto. Outras têm fotos ou vídeos íntimos partilhados contra sua vontade. Acções essas que já levaram a morte de várias adolescentes e mulheres que não resistiram ao saber que sua intimidade foi exposta para todos nas redes sociais.
Entretanto o que as mulheres não sabem, é que estas acções constituem um tipo legal de crime. De acordo com a advogada Ferosa Zacarias, a Constituição da República e o código penal preconizam estes, como crimes contra a honra e é com esses instrumentos legais que as mulheres devem se defender no espaço cibernético.
“As mulheres não devem olhar com naturalidade as ofensas nas redes sociais porque estão a ser vítimas de violência, e ignorar significa permitir que ela se alastre, é preciso que se recorra a lei para que a violência cibernética contra mulheres seja punida”, afirmou Ferosa.
A advogada afirma que este tipo de processo leva muito tempo entretanto é preciso que as mulheres tenham força de vontade para seguir o caso porque há sempre obstáculos devido à banalização desses crimes por parte da polícia.
O debate também contou com a participação do engenheiro electrónico, Richaldo Elias, que explicou que os crimes cibernéticos são crimes físicos que passam para internet, e adverte os usuários das redes sociais em particular as mulheres, que têm sido as maiores vítimas, a terem cuidado com o tipo de informação que partilham porque podem se tornar vulneráveis.
“As contas das redes sociais devem ser muito fechadas, devemos ter o cuidado de selecionar muito bem nossas amizades, porque partilhamos nossa vida e se qualquer um tiver acesso a ela pode nos causar danos.”
Segundo Richaldo Elias para evitar ser vítima de crimes cibernéticos ou exposição nas redes sociais as mulheres devem primeiro evitar partilhar suas fotos ou vídeos íntimos, até com pessoas com quem tenham intimidade, ter domínio dos dispositivos eletrónicos que usam para evitar exposição das fotos contra sua vontade, também devem ter a atenção de fechar suas redes sociais sempre que usarem computadores alheios.
Essas medidas, continua o engenheiro, são cruciais para que as mulheres usuárias de redes sociais se previnam da violência de internautas que estão na internet para prejudicar os outros.
O debate sobre violência cibernética contra as mulheres, que tinha como objectivo sensibilizar as pessoas a usarem as redes sociais com segurança, contou com a participação da Benilde Nhalivilo, Ex-Directora do Fórum Nacional de Rádios Comunitárias (FORCOM), Maria José Artur da WLSA, da activista Fátima Mimbire, Nzira de Deus da Fórum Mulher, jornalistas, estudantes e membros de várias organizações da sociedade civil.