Por: Sheila Magumane
Quem assim o diz é Elisa Comé, jornalista colaboradora num jornal semanário, que afirma que, ninguém sabe quem regula os jornais, pelo menos o Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social nunca se pronunciou em relação a questão e o resultado disso é que vários jornalistas não têm contrato dos órgãos de comunicação social para os quais trabalham, ganham apenas por artigo.
Para a jornalista, o facto da profissão também ser vista como refúgio por muitos jovens formados em outras áreas, mas que não conseguem emprego contribui em grande medida para a falta de compromisso salarial por parte das empresas de comunicação social, principalmente os jornais porque tendo vários colaboradores ganhando por artigo, não precisam estabelecer contratos de trabalho. Por sua vez, esses colaboradores também permanecem no jornalismo até que lhes apareça outra oportunidade fora da área.
“ Se em jornalismo tivesse um mínimo de salário recomendável, teríamos poucos jornalistas mas com um ganho fixo, entretanto como isso não acontece, vemos vários jornalistas como assessores de imprensa, como mestres de cerimónias, os jornalistas são lobistas. Cada um está num esquema, e isso, só mostra a fragilidade da profissão por causa da questão financeira.”
Segundo a jornalista, “Por mais que se tenha paixão em fazer alguma coisa, não vai se comer paixão, dormir pela paixão. É um grande desafio, pior quando se é mulher, porque os jornais dão primazia a assuntos políticos e económicos então sobra pouco espaço para assuntos típicos de mulheres jornalistas.”
Elisa Comé conta que entrou no Jornal para o qual colabora, porque quando terminou a formação académica, em Ciências Políticas não teve enquadramento, e a empresa de comunicação abriu as portas, e de lá começou a profissão mas nunca tinha sonhado em ser jornalista, apenas queria estar a trabalhar porque já era formada.
“Consegui trabalho estando no jornal como estagiária e não houve espaço para negociar contrato, sempre quis estar na sociedade civil, e tive esta oportunidade na MULEIDE e como já estava a aprender a escrever para o jornal, decidi conciliar os dois trabalhos”.
Outra jornalista é Biola Cossa, que diz que a maior inspiração de estudantes de jornalismo são jornalistas televisivos e a expectativa é de um dia trabalhar para televisão porque acreditam que se ganha muito bem e com ela não foi diferente. Entretanto quatro anos depois da formação, Biola ainda não conseguiu trabalhar em nenhum canal televisivo mas tem experiência em jornalismo impresso, começou a carreira no Jornal Sol do Índico que actualmente opera na plataforma digital com conteúdo de entretenimento.
Em relação a expectativa salarial, diz que absolutamente, não foi correspondida, “Infelizmente o mercado jornalístico moçambicano em termos financeiros não é satisfatório, estou muito longe do que almejava ganhar em termos de salário” diz.
A jornalista afirma que para permanecer no jornalismo é preciso olhar a actividade como profissão secundária não só pelos baixos salários mas também pela natureza do próprio trabalho.“O trabalho jornalístico depende muito de fontes de informação. O profissional pode desenhar determinada pauta, mas por causa da questão do acesso as fontes, a matéria não sai. Isso é frustrante para o profissional” concluiu.