Egídio G. Vaz Raposo
Os debates eleitorais se fossem radiodifundidos ajudaria sobremaneira a aumentar a consciência cognitiva dos cidadãos pelo menos para efeitos destas eleições, na medida em que estes teriam uma ideia geral e comparada dos manifestos e dos projectos de cada um dito por eles próprios
A semana que passou ficou marcada por um debate intenso ocorrido na esfera pública (tv, jornais, rádio e redes sociais) sobre a necessidade ou não de um ou uma série de debates eleitorais em que os três candidatos a presidência iriam confrontar as suas ideias e visões sobre o país.
Gostaríamos de sugerir que estes debates de facto devem acontecer por uma série de razões que de passo passamos a mencionar.
1. Os debates eleitorais aumentariam a consciência cognitiva dos moçambicanos
Somos uma sociedade de baixa informação tal como nota o estudo de Carlos Shenga e Robert Mattes: “Cidadania acrítica numa sociedade de baixa informação: os moçambicanos numa perspectiva comparativa”. Em Moçambique, apenas um em cada cinco moçambicanos é que é capaz de dizer quantos mandatos é que o Presidente pode cumprir (dois mandatos). Nas zonas rurais, esta cifra cai para os 16%. Mais grave, o Presidente Guebuza vai a reforma com apenas 20% da população moçambicana a conhecer-lhe pelo seu nome completo! Em termos de consciência cognitiva (quantidade de informação que as pessoas possuem sobre política e democracia; sua exposição à informação através de fontes típicas tais como a rádio, a televisão e órgãos de informação impressos ou através de fontes alternativas, tais como amigos e vizinhos etc.) o mesmo estudo indica que os nossos índices são baixos: apenas 13% dos moçambicanos lêem regularmente jornais; 8% todos os dias e 5% algumas vezes por semana; 16% dos moçambicanos assiste programas noticiosos de televisão todos os dias e 8% algumas vezes por semana. Aproximadamente apenas 40% da população moçambicana tem interesse na política. Este todo intróito era para dizer que os debates eleitorais se fossem radiodifundidos ajudariam sobremaneira a aumentar a consciência cognitiva dos cidadãos pelo menos para efeitos destas eleições, na medida em que estes teriam uma ideia geral e comparada dos manifestos e dos projectos de cada um dito por eles próprios.
2. Os debates eleitorais aumentariam a audiência
Na verdade, um debate eleitoral a três colocaria muitos moçambicanos colados aos receptores do que qualquer outra actividade política nesta campanha. Em termos de audiência, um debate eleitoral a três colocaria quase todos moçambicanos ligados seja a rádio, seja a tv e se informariam directamente e de forma critica sobre os manifestos, planos e prioridades de cada um dos candidatos, sem intermediários.
3. Os debates eleitorais reforçam a identificação partidária dos eleitores
Ao contrário do que se teme, estudos mostram que os debates eleitorais fortalecem a ligação dos partidários com seu candidato independentemente do que se pode concluir (vitória ou derrota no tal debate). Em “Political Campaign communication. Principles and practices”, Judith Trent e Robert Friedenberg argumentam que os debates eleitorais reforçam as convicções políticas dos eleitores em relação às suas opções ou candidatos. Pelo que, teoricamente, não há motivo para temer um debate eleitoral a três.
4. Os debates eleitorais activam indecisos e ajuda a clarificar as mensagens
Os debates eleitorais são igualmente um momento em que os candidatos aproveitam o ensejo para justificar ou clarificar alguns equívocos, desvios de interpretação bem como activar os indecisos e absentistas. Num momento em que os moçambicanos se debatem com baixos índices de votação, os debates eleitorais poderia ajudar na elevação dos níveis de interesse e de confiança dos votantes para com estas eleições.
5. Os debates eleitorais ajudam na definição da agenda dos votantes
Os manifestos eleitorais feitos pelos três partidos não tiveram uma ampla participação e envolvimento dos cidadãos, como podia se esperar. Três semanas depois do início da campanha, os próprios candidatos aperceberam –se de alguns aspectos mais salientes, outros minimizados em suas agendas e ainda outros mal abordados. As verdadeiras prioridades dos cidadãos vêm a tona à medida que os candidatos se fazem ao campo. Os debates eleitorais são um momento único em que finalmente os assuntos do povo são discutidos e analisados na perspectiva de governação.
6. Os debates eleitorais aumentam os níveis de conhecimento do eleitorado sobre os assuntos pertinentes
Tal como referenciado no ponto 1, somos uma sociedade de baixa informação, praticamente com muito pouco acesso a informação política de qualidade. Ouvir directamente dos candidatos e de forma cruzada os seus manifestos aumenta sobremaneira os níveis do conhecimento dos cidadãos sobre temáticas políticas.
7. Os debates eleitorais modificam a imagem dos candidatos. Pior do que está não sai
Isso mesmo. Os debates eleitorais só podem melhorar a imagem de um candidato. Pior do que está não é possível. Os políticos, ao se fazerem ao debate têm a nobre missão de convencer o eleitorado sobre três aspectos concretos
a) a sua aptidão para o cargo
b) a sua prontidão para assumir o cargo
c) a sua competência técnica e a exequibilidade do seu programa para o bem maior.
Assim, candidatos menos conhecidos têm maiores possibilidades de solidificar a sua imagem junto dos públicos e potenciais eleitores. Existem porém uma proporcionalidade inversa entre a participação nos debates eleitorais e o melhoramento da imagem dos candidatos. Candidatos mais conhecidos raramente vêm sua imagem alterada com o debate ao passo que candidatos menos conhecidos usam destes debates para finalmente solidificar a sua imagem.
8. Os debates eleitorais fortalecem a democracia e satisfazem os cidadãos
O princípio popular segundo o qual os políticos governantes são nossos servidores fortalece-se quando candidatos são expostos ao escrutínio cruzado e público, mediado pelos órgãos de informação. Por estas razões todas, somos de opinião de que os debates são sim prementes e deviam acontecer.