Debates Eleitorais, Acesso a Informação e as oportunidades perdidas (ou por perder)

Egídio G. Vaz Raposo

Os debates eleitorais se fossem radiodifundidos ajudaria sobremaneira a aumentar a consciência cognitiva dos cidadãos pelo menos para efeitos destas eleições, na medida em que estes teriam uma ideia geral e comparada dos manifestos e dos projectos de cada um dito por eles próprios

A semana que passou ficou marcada por um debate intenso ocorrido na esfera pública (tv, jornais, rádio e redes sociais) sobre a necessidade ou não de um ou uma série de debates eleitorais em que os três candidatos a presidência iriam confrontar as suas ideias e visões sobre o país.

Gostaríamos de sugerir que estes debates de facto devem acontecer por uma série de razões que de passo passamos a mencionar.

1. Os debates eleitorais aumentariam a consciência cognitiva dos moçambicanos
Somos uma sociedade de baixa informação tal como nota o estudo de Carlos Shenga e Robert Mattes: “Cidadania acrítica numa sociedade de baixa informação: os moçambicanos numa perspectiva comparativa”. Em Moçambique, apenas um em cada cinco moçambicanos é que é capaz de dizer quantos mandatos é que o Presidente pode cumprir (dois mandatos). Nas zonas rurais, esta cifra cai para os 16%. Mais grave, o Presidente Guebuza vai a reforma com apenas 20% da população moçambicana a conhecer-lhe pelo seu nome completo! Em termos de consciência cognitiva (quantidade de informação que as pessoas possuem sobre política e democracia; sua exposição à informação através de fontes típicas tais como a rádio, a televisão e órgãos de informação impressos ou através de fontes alternativas, tais como amigos e vizinhos etc.) o mesmo estudo indica que os nossos índices são baixos: apenas 13% dos moçambicanos lêem regularmente jornais; 8% todos os dias e 5% algumas vezes por semana; 16% dos moçambicanos assiste programas noticiosos de televisão todos os dias e 8% algumas vezes por semana. Aproximadamente apenas 40% da população moçambicana tem interesse na política. Este todo intróito era para dizer que os debates eleitorais se fossem radiodifundidos ajudariam sobremaneira a aumentar a consciência cognitiva dos cidadãos pelo menos para efeitos destas eleições, na medida em que estes teriam uma ideia geral e comparada dos manifestos e dos projectos de cada um dito por eles próprios.

2. Os debates eleitorais aumentariam a audiência
Na verdade, um debate eleitoral a três colocaria muitos moçambicanos colados aos receptores do que qualquer outra actividade política nesta campanha. Em termos de audiência, um debate eleitoral a três colocaria quase todos moçambicanos ligados seja a rádio, seja a tv e se informariam directamente e de forma critica sobre os manifestos, planos e prioridades de cada um dos candidatos, sem intermediários.

3. Os debates eleitorais reforçam a identificação partidária dos eleitores
Ao contrário do que se teme, estudos mostram que os debates eleitorais fortalecem a ligação dos partidários com seu candidato independentemente do que se pode concluir (vitória ou derrota no tal debate). Em “Political Campaign communication. Principles and practices”, Judith Trent e Robert Friedenberg argumentam que os debates eleitorais reforçam as convicções políticas dos eleitores em relação às suas opções ou candidatos. Pelo que, teoricamente, não há motivo para temer um debate eleitoral a três.

4. Os debates eleitorais activam indecisos e ajuda a clarificar as mensagens
Os debates eleitorais são igualmente um momento em que os candidatos aproveitam o ensejo para justificar ou clarificar alguns equívocos, desvios de interpretação bem como activar os indecisos e absentistas. Num momento em que os moçambicanos se debatem com baixos índices de votação, os debates eleitorais poderia ajudar na elevação dos níveis de interesse e de confiança dos votantes para com estas eleições.

5. Os debates eleitorais ajudam na definição da agenda dos votantes
Os manifestos eleitorais feitos pelos três partidos não tiveram uma ampla participação e envolvimento dos cidadãos, como podia se esperar. Três semanas depois do início da campanha, os próprios candidatos aperceberam –se de alguns aspectos mais salientes, outros minimizados em suas agendas e ainda outros mal abordados. As verdadeiras prioridades dos cidadãos vêm a tona à medida que os candidatos se fazem ao campo. Os debates eleitorais são um momento único em que finalmente os assuntos do povo são discutidos e analisados na perspectiva de governação.

6. Os debates eleitorais aumentam os níveis de conhecimento do eleitorado sobre os assuntos pertinentes
Tal como referenciado no ponto 1, somos uma sociedade de baixa informação, praticamente com muito pouco acesso a informação política de qualidade. Ouvir directamente dos candidatos e de forma cruzada os seus manifestos aumenta sobremaneira os níveis do conhecimento dos cidadãos sobre temáticas políticas.

7. Os debates eleitorais modificam a imagem dos candidatos. Pior do que está não sai
Isso mesmo. Os debates eleitorais só podem melhorar a imagem de um candidato. Pior do que está não é possível. Os políticos, ao se fazerem ao debate têm a nobre missão de convencer o eleitorado sobre três aspectos concretos
a) a sua aptidão para o cargo
b) a sua prontidão para assumir o cargo
c) a sua competência técnica e a exequibilidade do seu programa para o bem maior.
Assim, candidatos menos conhecidos têm maiores possibilidades de solidificar a sua imagem junto dos públicos e potenciais eleitores. Existem porém uma proporcionalidade inversa entre a participação nos debates eleitorais e o melhoramento da imagem dos candidatos. Candidatos mais conhecidos raramente vêm sua imagem alterada com o debate ao passo que candidatos menos conhecidos usam destes debates para finalmente solidificar a sua imagem.

8. Os debates eleitorais fortalecem a democracia e satisfazem os cidadãos
O princípio popular segundo o qual os políticos governantes são nossos servidores fortalece-se quando candidatos são expostos ao escrutínio cruzado e público, mediado pelos órgãos de informação. Por estas razões todas, somos de opinião de que os debates são sim prementes e deviam acontecer.

A Construção discursiva das mensagens mediáticas em torno dos candidatos presidenciais

Constantino Luciano Gemusse

Somos da opinião de que em processos eleitorais, a cobertura jornalista deve ser neutra; o jornalista deve procurar construir um discurso equilibrado sempre que possível, despir-se das suas marcas ideológicas para que não entre em conflito com a verdade e a objectividade da narrativa, garantindo assim a pluralidade e diversidade da cobertura jornalística.
As narrativas são dispositivos argumentativos que utilizamos em nossos jogos de linguagem. As narrativas jornalísticas constituem as estratégias organizadoras do discurso jornalístico. Ajuda-nos a compreender a lógica da construção do discurso e dos significados através da reconfiguração do acontecimento jornalístico, seus conflitos, episódios funcionais, personagens, estratégias de objectivação (efeitos de real) e subjectivação (efeitos poéticos) e do “contrato cognitivo” entre jornalistas e audiência.

De acordo com que nos propusemos a discutir e suportando-se nos pressupostos acima referenciados, depreendemos que tanto a media privada assim como a pública, têm uma tendência quase uniforme em construir uma narrativa discursiva com significado manifesto (aparente) sobre objecto (candidato) da Frelimo, expondo tendências e interesses conflituantes. Para além da espectacularização do discurso, denota-se também que há tendência de se construir um discurso simbólico e monossêmico (abertos à poucas interpretações) da parte dos eleitores. E em última analise, tende a construir um discurso visceralmente dominante que tenta-se promover a imagem do candidato da Frelimo de forma ostensivamente positiva.

Contrariamente aos candidatos do partido MDM e da Renamo, o discurso jornalístico tende a tomar um pendor ambíguo, implícito e latente (oculto) sobre os objectos (candidatos), ou seja, os jornalistas não exploram os manifestos e discursos dos candidatos devidamente e também pode-se constatar nas suas narrativas discursivas a questão de vitimização e os alguns constrangimentos decorrentes da campanha e a situação tende acentuar-se na TVM, onde a lógica narrativa do discurso tende a construir sentidos de rotularização, vulgarização, ridicularização dos partidos da oposição mesclados de conflitos e violência, como por exemplo, o foco que a media dá às deserções e as filiações dos militantes dos partidos da oposição à favor do partido Frelimo e o contrário, não acontece. De forma generalizada, tende-se a construir um discurso polissémico (abrindo a múltiplas interpretações e construção de sentido) sobre as imagens dos candidatos e seus partidos no eleitor.

No nosso entender, julgamos que a cobertura jornalista nos processos eleitorais, particularmente em campanhas eleitorais, deve ser neutra, o jornalista deve procurar construir um discurso equilibrado procurando sempre que possível, despir-se das marcas ideológicas no seu discurso para que não entre em conflito com a verdade e a objectividade da narrativa, garantindo assim a pluralidade e diversidade da cobertura jornalística

O partidarismo na cobertura eleitoral. O caso do Jornal Notícias

Ernesto Nhanale

A análise feita no jornal Notícias permite-nos concluir que existe uma tendência de produzir enquadramentos discursivos positivos sobre a campanha de Filipe Nyusi e da Frelimo em detrimento dos restantes, que gravita entre neutro e negativo. Por outro lado, MDM e Renamo e respectivos candidatos presidenciais são tendencialmente positivos nos órgãos de informação privados.
Neste segundo número do observatório da cobertura dos media à campanha das eleições gerais de 2014, iremos dedicar à análise da variável que procura descrever a tendência da cobertura, sob ponto de vista da neutralidade ou não dos jornalistas.

Para o efeito, iremos considerar os artigos publicados no Jornal Notícias. Analisar este jornal expressa para nós a continuidade das reclamações que vêm dos diversos sectores da sociedade sobre a cobertura dos media do sector público na presente campanha eleitoral. A este propósito, Tomás V. Mário produz um texto de leitura indispensável na edição do Jornal Savana de 19 de Setembro de 2014, com o título “Comunicação social e eleições: quem vigia o vigilante?”.

Embora seja considerado difícil estabelecer uma cobertura jornalística objectiva, em diversos níveis que não interessam aqui mencionar, os rituais, as práticas, a ética profissional e a necessidade de garantir a credibilidade profissional, indica que o trabalho da cobertura jornalística deve seguir-se pela objectividade que expressa a necessidade de o jornalista ser neutro, aplicando diversos procedimentos, como “limitar-se ao factos”, “separar as opiniões pessoais ou do jornal das notícias”, “evitar a adjectivação”, “garantir igual acesso aos candidatos ao espaço do jornal”, “respeitar o direito ao contraditório, em casos de disputas”, etc[1]. Como definição, entenderíamos melhor o sentido da objectividade a partir do seu antónimo, a parcialidade, isto é, sempre que o jornalista tomar algum partido na sua cobertura, estaria a agir de uma forma não objectiva.

E como é que o jornalista pratica ou não a objectividade? O jornalista é objectivo quando procura fazer um relato discursivo que “deixa os factos” falarem e a opinião ao critério do leitor, funcionando, simplesmente, como “mediador” entre os protagonistas/os factos (neste caso os partidos políticos e os actores das campanhas) e o público. Verificamos a quebra da objectividade, quando o jornalista tende, com a sua participação na notícia/reportagem que escreve, procura ser também um actor dos factos ou tende a condicionar a interpretação dos factos aos leitores, a partir dos enquadramentos que faz nas suas descrições. Na cobertura eleitoral, tal acontece a partir da tentativa de classificar ou adjectivar a campanha dos candidatos, sobretudo quando se procura fazer interpretações e condicionar a percepção do público sobre o curso da campanha eleitoral.
Na nossa análise, procuramos captar estes efeitos a partir de uma variável que designamos tom da cobertura eleitoral, através dos títulos e nas descrições feitas pelo jornalista o tipo de adjectivações que são oferecidas. Neste sentido, categorias são fundamentais da variável tom de um determinado enunciado que pode ser positivo, negativo e neutro. O tom positivo é definido por uma afirmação favorável sobre um determinado candidato; o tom negativo por uma afirmação desfavorável e o neutro por uma afirmação não favorável nem desfavorável[2] .

A análise feita no jornal Notícias sobre estas variáveis mostra que, embora predominem artigos com classificados como neutros em relação aos partidos da oposição, em relação ao partido Frelimo, existe uma tendência de produzir enquadramentos discursivos positivos sobre a campanha do seu candidato. Podem ser encontrados exemplos disso, nos artigos publicados sobre as sondagens e a ilustração de apoios assim como aceitação popular da campanha do seu candidato, como pode ilustrar este exemplo: “apoio a Filipe Nyusi: avolumam-se iniciativas”; “avolumam-se, diariamente, pelo país, as iniciativas de apoio ao candidato do partido Frelimo”, Edição de 21 de Agosto.
Este exemplo nota que, em vez de o repórter do jornal, relatar o número de iniciativas de apoio que presenciou, o que ilustraria factos, classifica o acto sob ponto de vista de crescimento, indicando o aumento de iniciativas de apoio ao candidato, sem que tal tivesse alguma comparação objectiva. Trata-se aqui, como noutras vezes, o tipo daquilo que se considera de cobertura positiva, tentando demonstrar o sucesso da campanha da Frelimo.
Podemos fundamentar melhor esta tendência da cobertura positiva a partir de três títulos da campanha dos candidatos, publicados no dia 18 de Setembro que podem constituir um bom exemplo para uma melhor compreensão da tendência da cobertura positiva da Frelimo, no Jornal Notícias:

  • CAMPANHA ELEITORAL – Frelimo partido de realizações
  • CAMPANHA ELEITORAL – Dhlakama promete mudanças
  • CAMPANHA ELEITORAL – Simango hoje em Inhambane

Estes títulos que compõem a montra e a maneira como o texto deverá ser entendido, colocando a Frelimo, numa posição de qualidade diferente aos outros, ao ser um partido de realizações, isto é, um partido que faz coisas acontecerem; por seu turno, Dhlakama, um homem de promessas (promessa é algo que pode não se cumprir) e o Simango, em Inhambane, um enquadramento que busca ilustrar uma simples ocorrência de cumprimento de calendário de campanha.
Estes são alguns exemplos dos vários, qualitativamente seleccionados para discutir a questão, sobretudo no Jornal Notícias. Por acreditarmos que a tendência da cobertura dos candidatos Daviz Simango e Afonso Dhlakama em alguns semanários tende a ser positiva e a do candidato da Frelimo, Filipe Nyusi, negativa, voltaremos na próxima semana com uma análise da mesma variável nos semanários. Ainda na próxima semana, iremos fornecer os dados quantitativos da tendência da cobertura na primeira semana da campanha, neste momento, em processo de apuramento e verificação.
Muito obrigado por nos acompanhar!

[1] – Quem estiver interessado em aprofundar um pouco mais sobre esta matéria da retórica e da prática da objectividade, recomendo que lei dois textos interessantes: TUCHMAN, Gaye “A objectividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objectividade dos jornalistas”. In TRAQUINA, N. [Org.] (1999). Jornalismo: Questões, teorias e “estórias”. 2ª ed. Lisboa: Veja. pp. 74 – 90.; Jay Rosen, “Para além da objectividade”. In Revista Comunicação e linguagens, n° 27, Fevereior de 2000.

[2] – SERRANO, E (2006). Jornalismo político em Portugal: A cobertura de eleições presidenciais na imprensa e na televisão (1976-2001). Lisboa: Edições Colibri.

Campanha eleitoral: como os partidos políticos estão a conduzi-la?

Compulsando sobre o espaço virtual da internet é, nesta campanha eleitoral, o maior repositório de informação e supera de longe as outras campanhas, tendo em conta que a largura da banda e a proliferação de serviços de internet e de telefonia móvel cresceu, desde 2009.
Em Moçambique, circulam mais de 2 milhões de telemóveis de terceira e quarta geração (smartphones) que possibilitam o acesso à internet e com ela, o acesso e troca da informação.

Ora, como os partidos e respectivos candidatos estão a usar este espaço virtual é algo que ainda precisa ser estudado com necessário detalhe, mas desde já, podemos afirmar que existem desafios enormes que precisam ser superados em pelo menos cinco dimensões: na organização e otimização da informação, na canalização das mensagens, na promoção do engajamento e criação de conteúdo.

Organização Da Informação
Apesar desta campanha eleitoral ter disponível os manifestos eleitorais, eles são menos discutidos. Outro tipo de material de campanha como logótipo, banners, stickers, cânticos etc; manifestos dos candidatos, palavras de ordem, gingles, vídeos do candidato, resumo de reuniões e comícios, testemunhos etc., não se encontram disponíveis num único repositório. A informação encontra-se espalhada em vários suportes e formatos e plataformas, o que exige dos leitores ou potenciais eleitores, um exercício complexo de colecta de informação.

Fragmentação Das Mensagens
Todos os partidos políticos estão a usar a estratégia que apela a todos sectores da sociedade. Tal estratégia é em inglês conhecida por catch all startegy. Gerir esta estratégia tem riscos, principalmente, quando as mensagens não são bem articuladas. Por exemplo, gerir mensagens de Mudança e Continuidade pode sugerir uma contradição se os “campaigners” não conseguirem estabelecer uma relação inteligível entre elas. Assim, por exemplo, os longos manifestos poderiam ser resumidos em uma única folha A4 com apelo a infográficos e outros recursos visuais, capazes de tornar as mensagens inteligíveis e de fácil compreensão. Tal procedimento poderia facilitar por exemplo a sistematização das mensagens capazes de ser apresentadas durante as aproximações porta-a-porta.

Fraco Engajamento
Este aspecto é mais visível. Os membros e simpatizantes dos partidos políticos notabilizaram-se em publicar e publicitar a campanha dos seus partidos ou candidatos. Mas poucos se preocupam com os níveis de engajamento. Na verdade ao usarmos as plataformas digitais ou online para campanhas eleitorais, o principal objectivo não é apenas informar mas sim engajar os internautas no debate favorável. Tal não está a acontecer. Listservs (grupos de discussão comonline como YahooGroup ou GoogleGroup), páginas únicas de candidatos, canais de YouTube e de personalidades de referência bem como quiosques online de informação ajudariam a resolver a profusão das mensagens. Na verdade, precisa haver um LUGAR onde as pessoas podem aceder para ver, ouvir e escrever.

  • Fraco Conteúdo
    As campanhas de todos partidos produzem muito pouco conteúdo útil para o engajamento dos cidadãos como para a promoção da utilidade destas eleições. Alguns temas que estão a faltar nas campanhas são:
    Lista de nomes de candidatos a deputado da assembleia da República e Provincial – cada um destes tem o potencial de puxar pelo seu eleitorado, pelo seu círculo eleitoral
  • Dados biográficos de alguns deputados elegíveis
  • Promessas de deputados
  • Iniciativas de lei em carteira
  • Resultados dos trabalhos e impacto na legislatura passada
  • Paz, segurança e desenvolvimento

Fraca integração de recursos: web, redes sociais e e-mail
Não há integração entre o Facebook, E-mail e Website dos partidos políticos. Normalmente, TODO conteúdo deveria ter no website seu repositório. Deveria ser de lá que internautas partiriam para vários canais para de novo lá regressarem. Os canais sociais deveriam ser alimentados pelo website e não por grupos isolados de simpatizantes. A criação de uma equipa para campanha online, melhoramento dos canais de comunicação e das redes sociais, estabelecimento de metas concretas para engajamento e impacto poderia ajudar a reorganizar a forma como as mensagens são passadas pelas redes sociais da internet e outras plataformas digitais. Desenhar estratégias para a otimização do uso do email e da newsletter para que no fim, a campanha se promova como Uma Loja, Um Quiosque De Informação.

Os jornalistas e os riscos da cobertura partidária: uma análise da orientação temática da produção noticiosa no período da pré-campanha das eleições gerais de 2014


Ernesto Nhanale(*1)

Para a análise da pré-campanha eleitoral, elegemos como variável de análise a orientação temática da cobertura feita. Dez meios de comunicação analisados, nomeadamente, os Jornais Notícias, Diário de Moçambique, Opais, Savana, Zambeze, Domingo, Magazine Independente, Canal de Moçambique, A Verdade e Rádio Moçambique (RM)(*2) , no período de 20 a 31 de Agosto, foi recolhido um total de 38 artigos, abrangendo actividades de pré-campanha de 05 dos 30 partidos e movimentos políticos concorrentes às eleições.

Segundo a tabela abaixo, o partido Frelimo foi o que teve o maior número de artigos publicados, durante a pré-campanha, seguido do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), depois da RENAMO; depois, o Partido para Paz, Democracia e Desenvolvimento/Aliança Democrática e Partido do Progresso do Povo de Moçambique. O resto dos partidos e movimentos não tiveram nenhuma aparição na imprensa, neste período.

Por outro lado, dos dez meios analisados neste período, somente 07 (Notícias, Opais, Savana, Zambeze, Domingo, Magazine Independente e Rádio Moçambique) tiveram atenção em questões eleitorais. A tabela 2 permite visualizar a distribuição dos artigos analisados pelos sete meios analisados, neste período.

Destes artigos, foi feita a análise do enquadramento temático dado pelos jornalistas à cobertura dos partidos políticos. Vamos, em primeiro, definir e apresentar a variável de enquadramento temático na cobertura eleitoral.
O enquadramento das matérias é uma das variáveis usadas em diversas análises de cobertura de campanhas eleitorais, sobretudo nas que mais se preocupam com o tipo de construções que os jornalistas fazem dos assuntos. De acordo com Norris e Patrick , os enquadramentos podem ser classificados em 4 categorias: corrida de cavalos, personalista, temático e episódico.

O enquadramento “corrida de cavalos”/estratégico ocorre quando a cobertura dá enfoque à posição dos candidatos na disputa ou às suas estratégias para manter ou modifica o quadro de concorrência. Chama-se por vezes por cobertura estratégica, usando a metáfora de jogos, onde os candidatos apresentam-se como ganhadores ou jogadores que reportados, muitas vezes, em sondagens de opiniões. Quando a preocupação do jornalista é focalizar as características pessoais do candidato, o enquadramento é chamado personalista. O enquadramento episódico é o que dá mais enfoque às ocorrências do dia-a-dia da campanha; e o enquadramento temático situa-se no âmbito de debates a respeito de propostas apresentadas pelos candidatos.
Para além destas quatro categorias, foi acrescentada mais uma, o enquadramento dramático. A televisão mede-se muitas vezes pelo espectáculo, envolvendo situações de conflito. O enquadramento dramático resulta, muitas vezes do valor notícia de construção chamado drama. Segundo Traquina (2007), a dramatização tem sido um elemento que ilustra as controversas dos políticos, uns acusando os outros, fazendo enfoque ao lado conflitual e emocional da “estória”.

Neste período de pré-campanha, grande parte dos artigos publicados tiveram uma orientação mais de corrida de cavalos, ilustrando os espaços e o protagonismo que os partidos iam assumindo. Esta tendência de cobertura foi também alimentada por algumas sondagens de tendência de voto realizadas, durante os momentos da pré-campanha. Também é preciso realçar o facto de esta categoria ter muitos artigos classificados, não pela conta da sondagem eleitoral, mas por várias citações e menções comparativas feitas pelas fontes de informação da vitória dos candidatos, algo que também poderia ser classificável na cobertura episódica.

Exemplos de Cobertura Corrida de Cavalos:
“ No distrito de Katembe, Filipe Nyusi ganha com 65 por cento, dos 63 inquiridos, contra 21 por cento de Daviz Simango e quatro por cento de Afonso Dhakama” (Jornal Notícias de 26, Agosto de 2014)
“ Em Inhambane a situação política é favorável à Frelimo e o seu candidato Filipe jacinto Nyusi”, (Jornal Notícias de 29, Agosto de 2014)
“Corrida de cavalos nota: a fonte fala de informação fala do objectivo da campanha e cita a vitória expressiva do partido e seu candidato. Sendo que há falta de coesão entre o Intro dado pelo jornalista e as palavras da fonte” (Rádio Moçambique, 28 de Agosto de 2014).

Num segundo plano, encontra-se a cobertura episódica, ilustrando os preparativos e apoios do lançamento da campanha eleitoral pelos partidos políticos, sobretudo do candidato da FRELIMO.

Exemplos de Cobertura Episódica:
“Avolumam-se diariamente, pelo país, as iniciativas de apoio de candidato do partido da Frelimo, Filipe Jacinto Nyusi, às eleições presidenciais de 15 de Outubro próximo. Na cidade de Maputo, os dirigentes da Associação Anyusi estiveram ontem envolvidos numa jornada de acção social e de angariação de mais membros para a agremiação, na Praça 25 de Junho, num evento, que visou os polidores de viaturas da baixa capital e as vendedoras de porto de Maputo” (Noticias, 2014-08-21)

“O candidato presidencial da Frelimo às eleições presidenciais de 15 de Outubro, Filipe Nyusi, manifestou, semana finda solidariedade com os mineiros moçambicanos, que trabalha nas minas de Maricana, região sul-africana de Rustenrere, e garantiu que eles estarão na sua agenda de governação” (O País, 2014-08-24)

“está tudo aposto para o arranque da campanha” ( Rádio Moçambique, 29-08-2014)

“fala-se do que será a campanha da Renamo a partir de Domingo” (Rádio Moçambique, 30-08-2014)

A cobertura temática foi também muito destacada na pré-campanha do candidato da Frelimo. O mesmo ocorreu em relação à cobertura personalista que, no caso particular, no Savana teve uma tendência de destacar a personalidade dos outros candidatos às presidenciais, buscando algumas análises comparativos dos perfis.
De uma forma geral, pode-se notar na semana da pré-campanha pouca cobertura. Mesmo sem ser objecto de análise, com uma tendência de “positivização” da Frelimo e do seu candidato, sobretudo nos jornais Notícias e na Rádio Moçambique, conforme iremos mostrar no nosso próximo número, onde iremos explorar a variável de orientação da cobertura entre positiva, negativa e neutra.
Esperamos que nos acompanhe, semanalmente. No final, com o relatório global da cobertura da campanha eleitoral.

(*1) Pesquisador do CEC e coordenador do Observatório da Cobertura Eleitoral de 2014 realizada pelo CEC e o SNJ.
(*2) este período, não foi inclusa a análise ao conteúdo das televisões, devido às dificuldades de acesso aos materiais produzidos.

Nota de abertura

A monitoria da cobertura dos media nos processos eleitorais cumpre um papel fundamental, sobretudo pelo facto de os jornalistas constituírem numa das fontes de informação fundamental a partir da qual os eleitores tomam conhecimento sobre os programas e os candidatos concorrentes. Como é sabido, a informação configura-se como o condimento primordial para os eleitores tomem conhecimento das ofertas dos candidatos e façam as suas escolhas. Normativamente, não se pode pensar num processo eleitoral sem informação.
No leque das várias fontes de informação, como os espaços de antena dos partidos, os comícios, as redes sociais proporcionadas pelos novos media; o trabalho dos jornalistas ocupa um espaço especial graças ao seu estatuto social e a lógica do seu funcionamento que lhe permite agir como um filtro dos eventos e indicar aos cidadãos o que há de “mais importante”, ao longo da campanha eleitoral, segundo os seus critérios de classificação. Dir-se-ia, numa forma mais simples, que de recolha e divulgação das actividades de campanha feita pelos media noticiosos configura-se, idealmente, como credível, uma vez a função social do jornalista definir-se pelos valores de isenção, imparcialidade e objectividade.

No entanto, os problemas que levam a monitoria da cobertura eleitoral derivam do próprio papel social do jornalista e das limitações do seu trabalho. Muitas vezes, os políticos por reconhecerem o papel que os media noticiosos gozam na sociedade, empreendem diversas estratégias de pressão dos actores do campo jornalístico com a finalidade de angariar uma cobertura positiva sobre os seus candidatos, por vezes, criando efeitos negativos sobre a campanha dos adversários.
Com a profissionalização da comunicação política, surge o efeito spin doctoring, uma a actividade profissionalizada realizada por profissionais de comunicação ligados aos partidos políticos que trabalham com o objectivo de obter uma influência favorável da cobertura dos jornalistas nas campanhas eleitorais. O termo Spin Doctoring é usado para caracterizar os métodos mobilizados pelos políticos, partidos e consultores para alcançar uma publicidade favorável. Para alcançar seus objectivos eleitorais, algumas campanhas lidam directamente com os media, outras são responsáveis por melhorar a sua própria campanha partidária e outras são encabeçadas a constituir-se como um instrumento de luta contra a oposição(1).

Efectivamente podemos dizer que é na retórica da credibilidade da informação que se geram os efeitos de propaganda. Isto é, o facto de o público reconhecer os media como fonte credível para a informação sobre os candidatos e suas propostas, o jornalismo torna-se num campo de luta e de disputa pelos partidos políticos. Quando o jornalista, por vários motivos ligados às fragilidades da sua profissão, dentre os quais as limitações financeiras, as ligações organizacionais e pessoais com os candidatos e partidos políticos, o produto do seu trabalho torna-se lesivo aos reais objectivos da cobertura eleitoral que é promover uma participação consciente.
A monitoria da cobertura eleitoral cumpre assim um papel de instância de controlo, entre a demarcação do papel informativo dos media e o grau em que tendem a ser capturados pelos partidos políticos, no quadro neste quadro de disputas entre o normativo e os jogos de interesses políticos.
Dentro da sua missão, o Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC), em parceria com o Sindicato Nacional dos Jornalistas, realiza este papel de “observador” da acção dos media na cobertura da campanha eleitoral de 2014. Para este ano, o trabalho procura ser feito de forma inovadora: ao invés de produzir um relatório final da campanha, os pesquisadores vão, ao longo da campanha emitindo relatórios semanais da cobertura, como forma de garantir que os jornalistas possam ser capazes de reverem a orientação da cobertura, de acordo com os resultados divulgados.
Para além das informações gerais produzidas a partir dos gráficos de frequências, os artigos semanais serão acompanhados de uma análise qualitativa de cada um das variáveis importantes da monitoria da cobertura eleitoral. Com isso, os pesquisadores do CEC pretendem fornecer um maior conhecimento público sobre os padrões de qualidade da cobertura eleitoral, assim como a sua orientação durante a campanha eleitoral, em Moçambique.
O relatório final da campanha irá trazer a análise global da campanha, tendo em conta as diversas variáveis analisadas.

(1) ESSER, F. et al. (2000). Spin Doctoring in British and German Election Campaigns: How the Press is Being Confronted with a New Quality of Politic PR. In European Journal of Communication. http://ejc.sagepub.com/cgi/content/abstract/15/2/209. Acesso aos 27 de Dezembro de 2008.

CEC homenagea mulheres do sector informal

Está aberta, até 27 de Julho, na Minerva Central, a exposição fotográfica “Mulheres no espaço público”, de Adérito Maundze, em homenagem às mulheres do sector informal. Esta exibição, organizada pelo Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação (CEC) teve a sua abertura no dia 05 de Julho.

Na sessão de inauguração, o autor das fotos explicou que a ideia da exposição surgiu no âmbito da materialização do projecto MediaFemme do CEC, pelo qual pôde acompanhar e ficou impressionado com o trabalho da dona Cacilda, uma mulher que confecciona alimentos no mercado Mandela, na cidade de Maputo. Com esta exibição, o fotógrafo pretende chamar a atenção do público no sentido de ter um olhar crítico sobre as condições de trabalho da mulher do sector informal. “Esta exposição é a realização de um sonho, porque me permitiu fazer o que muitos não fazem, principalmente os jovens que é prestar uma homenagem a essas mulheres que considero heroínas”, explicou Adérito Maundze.

Em representação ao MediaFemme, Wanderleia Noa, do CEC referiu que o projecto Media Femme através do qual surgiu a idéia da exposição é uma plataforma que serve de laboratório, e visa formar a mulher jornalísta e instruí-la a comprometer-se com a justiça social em prol da mulher e criança.

A cerimónia de abertura contou tambem, com a presença de representantes da Associação da Economia Informal de Moçambique e do representante da ONU Mulheres,  Boaventura Veja, que durante o momento de reflexão sobre o papel do sector informal no empoderamento económico das mulheres enalteceram a importância desta no desenvolvimento da economia moçambicana. A cerimónia foi animada pela actuação da banda femenina da UEM ‘As Marias’.

DIA MUNDIAL LIBERDADE DE IMPRENSA EM MOÇAMBIQUE 2018

Alusivo à celebração do dia Mundial de Liberdade de Imprensa, foi realizado no dia 3 de Maio de 2018, um evento sob o lema “Mantendo a vigilância sobre o poder: A imprensa, justiça e Estado de Direito”

“A Tragédia de Caphirizange e a Indústria Extractiva”

Foi lançado, nessa sexta-feira, em Maputo, o estudo sobre “A Tragédia de Caphirizange e a Indústria Extractiva”. A pesquisa conclui que a comercialização ilegal do combustível beneficia a indústria extractiva, sendo que e o Estado deve pensar num modelo a implementar no país visto que o sector cresceu drasticamente e não se observou o acompanhamento, manuseamento e conservação do mesmo o que consequentemente gera oportunistas.

Acesse o Link abaixo para baixar o relatório da pesquisa!

 

 

Mesa redonda Sobre Migração Digital 2017

Membros do Observatório de Migração Digital reuniram-se na manhã desta Terça-feira, em Maputo, para reflectir sobre a modernização, compatibilidade, acessibilidade do processo de migração digital em Moçambique, na mesa-redonda organizada pelo CEC- e MISA Moçambique.

Os participantes concordaram que a percepção da migração digital deve ser clara para que seja inclusiva, tendo sido levantados dois pontos importantes, um sobre a questão da compatibilidade do equipamento e o outro sobre o custo do sinal, uma vez que, numa primeira fase, serão disponibilizados 400 mil set-top-box (descodificador), a um preço compatível ao custo de produção.

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