Migração Digital em Moçambique: o apagão será real

Até Junho deste ano todos os países deverão mudar a forma como os seus cidadãos deverão aceder aos serviços de radiodifusão, incluindo sinal de TV: é a migração do sistema de transmissão existente, chamado de analógico para o sistema digital. Este processo traz muitas vantagens e oportunidades, mas também tem muitos desafios.

Do lado do consumidor, a recepção de sinais de televisão digital irá envolver a aquisição de novos dispositivos digitais ou conversores de sinal, cujas condições de compra em Moçambique são ainda incertas e praticamente desconhecidas.

A transição também terá implicações no negócio: os operadores de televisão, os cidadãos, que deverão adquirir novos aparelhos ou os comerciantes que deverão importar novo equipamento, serão todos afectados pela migração.
Em relação às televisões, estas deverão estar preparadas para compartilhar a infraestrutura de transmissão, na medida em que a sua missão irá circunscrever-se apenas na produção de conteúdo.

O processo envolve um grande investimento e com a participação de todos os interessados, e isso requer acesso atempado à informação, a ser fornecida pelo governo através de diferentes meios e métodos.

Entretanto, a maioria dos moçambicanos ainda não sabe nada do que lhe espera a partir do dia 17 de Junho deste ano.
As lojas continuam a vender equipamento analógico, televisores que a partir de Junho jamais receberão o sinal de televisão.
Os conversores que o Estado prometeu ainda não estão a venda, mesmo sabendo que irao custar 2000 meticais. Curiosamente, o preço mínimo de um televisor em Maputo por exemplo é de 1500 meticais!

Há ainda um grande desafio que prevalece sobre a regulamentação da radiodifusão no ambiente digital, especialmente em regulamentação de programação e conteúdo.

IMPLICAÇÕES

Em Moçambique, como em muitos países africanos, a radiodifusão e telecomunicações são tratados como mercados separadas. No entanto, a convergência digital implica que os operadores de telecomunicações estejam envolvidos com as entidades de radiodifusão. A consequência imediata desta convergência será a necessidade de reformular ao sistema de regulação actualmente distribuído por várias entidades governamentais.

Em relação programação e conteúdo, Moçambique ainda não possui nenhuma lei de radiodifusão, que poderia ajudar na regulamentação dos serviços da rádio e de televisão. Na ausência desta lei, como é que as coisas vão ficar depois de Junho de 2015?

Para os cidadãos ainda persiste o risco de exclusão no acesso a informação se os conversores não chegarem a tempo. Faltando apenas meses para a migração se efectivar, milhares de moçambicanos não sabe ainda do risco que se lhes aguarda.

Migração Digital em toda a áfrica tem tudo a ver duvidosos negócios com chineses

Por: JAINDI KISERO

Tradução de Egídio G. Vaz Raposo

[Nota do editor: Este texto tem tudo a ver com a nossa situação quanto aos contornos da migração digital].

Sumário

• A StarTimes basicamente conseguiu dominar o espaço da migração digital em África, conduzindo o processo no Malawi, Zâmbia, Quénia, Nigéria, Gana, Ruanda, Tanzânia, Uganda, Moçambique e muitos mais.
• Não se enganem. Eu sou xenófobo. Mas onde está o interesse nacional ao permitir que os chineses controlem as transmissões em África?
• O negócio que a StarTimes coloca na mesa dos ugandeses está cheio de controvérsia. Em Gana, as autoridades anunciaram no mês passado que tinham cancelado o acordo migração digital com StarTimes.

A característica mais inquietante das invasões por parte da Autoridade das Comunicações do Quênia às estações de radiodifusão é a forma bárbara e selvagem com que foram realizados.
Na semana passada, eles invadiram estações de transmissão em Limuru e começaram a arrancar e desmontar equipamentos caros, sem se importarem dos danos permanentes que estavam a causar ao equipamento caro da estação.

Não se trata de dizer se os homens do senhor Francis Wangusi agiram legalmente ou não. Mas se é verdade que ninguém está acima da lei, é igualmente verdade que, enquanto a Constituição aprovada em 2010 durar, cada entidade de negócios neste país está acima de terrorismo de Estado.

E não deixe enganar. O impasse sobre migração digital não é apenas sobre a resistência em migrar das televisões NTV, Citizen KTN e QTV. Quando eles dizem que este conflito surgiu porque as três grandes entidades locais de radiodifusão perderam o concurso de distribuição de sinal digital num processo aberto e competitivo, eles estão deliberadamente apontando na direção errada.

Para entender este conflito, é preciso olhar para o quadro mais amplo e examinar as actividades recentes de StarTimes da China em outros países africanos.

Com efeito, este conflito é sobre as táticas e jogos que a empresa chinesa está empregando à medida que ela se posiciona para capturar e controlar todo o processo de migração digital no continente. A StarTimes tem estado a cavalgar o continente, fazendo acordos opacos com os ministros das Comunicações, reguladores de telecomunicações e emissoras estatais, devorando cada negócio à vista e deixando para trás fortes protestos pelas emissoras incumbentes.

O negócio que a StarTimes coloca aos ugandeses está cercado de controvérsia. Em Gana, as autoridades anunciaram o cancelamento do acordo de migração digital com a StarTimes no mês passado. Segundo o ministro ganês, “está cada vez mais claro que a StarTimes e a Eximbank da China não serão capazes de realizar a migração digital em Gana dentro do prazo”, disse o ministro das Comunicações do Gana.

Na Zâmbia, a controvérsia surgiu com a adjudicação do negócio a StarTimes, em setembro de 2013, forçando as autoridades em Lusaka a cancelar o negócio.
Curiosamente, as queixas contra a StarTimes na Zâmbia foram apresentadas por duas empresas chinesas, nomeadamente a Huawei e a ZTE. Meses depois o cancelamento foi revogado e o acordo voltou para a StarTimes.

Em Moçambique, as travessuras em torno da StarTimes e do processo de migração digital têm sido sensacionais. Houve alegações na mídia de que os parceiros da StarTimes eram uma entidade com o nome de Focus 21 pertencente a filha do presidente, Valentina Guebuza.

ARTE DE FAZER NEGÓCIOS

A StarTimes basicamente conseguiu dominar o espaço migração digital na África, conduzindo o processo no Malawi, Zâmbia, Quénia, Nigéria, Gana, Ruanda, Tanzânia, Uganda, Moçambique e muitos mais.

Qual é o meu ponto? É que as controvérsias em torno da StarTimes e todo o processo de migração digital no continente são principalmente sobre como a empresa chinesa aperfeiçoou a arte de fechar negócios com ministros de comunicações, reguladores de telecomunicações e poderosos corretores políticos em África.

Hoje, quando os interesses de um actor local chocam com os interesses do capital chinês no espaço da migração digital, este acaba involuntariamente caindo na desgraça, num nexo inexpugnável de influentes corretores de poder.

Não se enganem. Eu não sofro de xenofobia. Mas onde está o interesse nacional ao permitir que os chineses controlem a transição em África?

Para a vossa informação, muitos países do Ocidente, incluindo os Estados Unidos, ainda têm leis que impõem restrições à propriedade estrangeira no sector de radiodifusão. Neste país, alguma vez nós já tivemos em conta interesses estratégicos ao lidar com os estrangeiros?

Há alguns anos, os americanos barraram o conglomerado das TIC chinesa, Huawei, de participar da licitação para contratos com o governo.

Gostei a forma como um oficial sénior de segurança americano, Sr. Michael Chertoff defendeu a acção contra a Huawei. Ele disse: “Se você permitir que uma empresa estrangeira construa para si a rede que controla todos fluxos de dados, a empresa estará em perfeitas condições para entender as suas vulnerabilidades. E cada vez que a empresa estrangeira vier a actualizar o sistema terá mais uma oportunidade de instalar um novo spyware “.
Pela primeira vez, vamos pensar no interesse nacional.

(Jkisero@ke.nationmedia.com)

O senhor Kisero é queniano, Editor executivo da Nation Media Group para negócios e assuntos económicos, e colunista do Daily Nation e Business Daily

Migração Digital: o que acontece quando o povo não sabe?

O processo de migração digital em Moçambique está na sua fase final. Fase final, porque pelo menos em 2015, o sinal de televisão deixará de ser analógico para ser digital, com todos os benefícios inerentes.
Mas esta bonança não vem sem algumas precondições. Há já cinco anos que se sabe que daqui a uns meses haverá esta migração.

As rádios estas serão mais graduais. Mas para a televisão, que se está a tornar no meio de informação e comunicação mais poderoso, a frente das plataformas das redes sociais por enquanto, o tempo parece nos lançar para a escuridão.
Coisas estranhas acontecem num país cujo Estado deveria já ter tornado este assunto uma prioridade de governação senão vejamos:
• Os televisores baratos, analógicos ainda estão sendo importados e vendidos a preços de até 1500 meticias sem que nenhuma entidade chame atenção a precaução dos consumidores
• O Banco Mundial diz que irá subsidiar os conversores nas zoinas urbanas bem como o Estado cujo preço se situará a 2000 meticais ou pouco menos. Mas eles ainda não estão a venda em nenhum local muito menos notícia sobre eles
• O mais gritante ainda, a população continua no seu mais remoto sono, desconhecendo tudo, como se nada estivesse a espreita
O que vai acontecer no dia 17 e subsequentes será simplesmente o rápido regresso ao paleolítico. Mas isto acontecerá não sem uma dose de consequências políticas e sociais.
O governo deve junto das entidades responsáveis desdobrar-se arduamente em campanhas de informação pública, enquanto estes estiverem ainda operacionais e os receptores ainda úteis, para veicular mensagens de sensibilização. Paralelamente os direitos do consumidor devem ser salvaguardados através da informação e sensibilização dos vendedores de aparelhos receptores por forma a informar os compradores dos riscos e das consequências da migração digital e formas de mitiga-los a tempo, seja através da compra de aparelhos compatíveis seja procurando pelos conversores.

Não haverá apagão no dia 17 de Junho?

Recentemente, a Associação da Mulher na Comunicação Social – AMCS levou a cabo um debate em que se queria perceber quais seriam as implicações para os cidadãos moçambicanos que não pudessem ter um televisor moderno ou um conversor, no âmbito da migração do sinal analógico para o digital.

Na ocasião, o engenheiro Luís Loforte Luís Loforte, um dos especialistas na montagem de antenas e sistemas de funcionamento de rádio e televisão, disse que Moçambique não sofrerá nenhum apagão no dia 17 de Junho, dia determinado pela Organização Internacional das Telecomunicações para a passagem definitiva do sistema analógico para o digital. Para ele, p pelo facto de o processo ser gradual, numa primeira fase envolverá apenas a televisão. Assim, a Rádio fica ainda com algum tempo para se transformar.

Loforte disse ainda que o Banco Mundial se encarregará em subsidiar os conversores de TV para as zonas urbanas.

E para as zonas rurais? Quem as financiara?
Recorde-se que todo o processo de transição está a cargo da StarTimes, empresa chinesa com ramificações locais. A Exim Bank da China é quem irá financiar os 300 milhões de dólares para a implementação do projecto.

Entretanto, continuam nas lojas a venda unidades de televisores analógicos, alguns dos quais ao preço muito barato, sem que as pessoas sejam informadas das implicações futuras.

Descodificadores de Tv Digital vão custar 1.800 Meticais ao cidadão

O vice-presidente da Comissão Nacional para a Migração Digital em Moçambique, Simão Anguilaze, diz que os descodificadores necessários a partir do próximo ano para o sinal digital de televisão vão custar 1.800 Meticais e que o Estado não vai subsidiar a ninguém.
Está cada vez mais a ficar claro como vai funcionar o processo da migração digital no país. O vice-presidente da Comissão que está a conduzir o processo da Migração Digital em Moçambique, Simão Anguilaze, já avança com os encargos que isso vai implicar no bolso do cidadão. Só para a compra de descodificadores do sinal digital, as famílias precisam perto de 2 mil meticais.

Este ano, o Governo vai arrancar com trabalhos experimentais em todas as capitais provinciais que vão consistir na instalação de emissores digitais pilotos.
Fonte: TIM

Governo garante que Migração Digital não irá afectar as Rádios Comunitárias

O Governo, na tentativa de responder às preocupações apresentadas pelas rádios comunitárias resultantes do “secretismo e exclusão” que está a caracterizar o processo, garante que estas não serão afectadas pela migração do sistema de radiodifusão analógico para o digital. O Executivo esclarece ainda que a migração do sistema analógico para digital das rádios não é obrigatória e não tem prazos para ser concluído, tal como acontece com a televisão.

“As Rádios Comunitárias não precisam de se preocupar porque a migração que tem prazo estabelecidos é da televisão, isto porque as frequências que são usadas para o analógico são diferentes das que são usadas para a digital e isso já não acontece com a televisão, pois para esta as frequências da analógicas são as mesmas usadas para a televisão digital, por isso não pode haver coexistências dos dois sistemas dentro do mesmo diapasão”, explicou Américo Muchanga, director do Instituto Nacional de Comunicação de Moçambique que falava em representação do Governo, na conferência sobre liberdades comunicativas.

Assim, segundo a explicação de Muchanga, que é igualmente presidente da comissão encarregue de dirigir o processo de migração, as rádios comunitárias continuarão a fornecer os seus serviços com o mesmo equipamento que elas possuem agora e os seus utentes poderão igualmente receber o sinal recorrendo ao material que possuem.

Uma eventual obrigatoriedade de migração das rádios pode vir a ser imposta por motivos de natureza técnica, mas isso, no mínimo, será nos próximos 15 anos, pois pode ser que até esse período já não haja no mercado equipamento analógico disponível para substituir o que está a ser usado neste momento, garante a fonte.

No entanto, uma outra razão que poderá obrigar as rádios a migrar tem que ver a indisponibilidade do espaço nalgumas zonas, tal é o caso da cidade de Maputo, para a inclusão de mais frequências radiofónicas no espectro.

Ou seja, “se alguém pretender colocar uma nova rádio na cidade de Maputo já não existem frequências para essa rádio, então terá que implementar uma rádio digital ou então optar por outra província. Já não há espaço disponível no espectro da FM, na cidade de Maputo”, argumentou.

Cidadãos terão 20 anos para pagar conversores

Depois de concluído o processo de migração de radiodifusão do sistema analógico para o digital, a maior parte dos aparelhos de televisão actualmente na posse da maioria dos cidadãos necessitará de um conversor para garantir a recepção do sinal.

Este dispositivo, denominado set-top-box, de acordo com o representa do Ministério dos Transportes e Comunicações, Américo Muchanga, estará disponível para os cidadãos a preço de 1.200 meticais, valor a ser pagos num prazo de 20 anos.

“Os descodificadores vão estar disponíveis no mercado e serão encontrados mecanismos para que o cidadão pague esse descodificador num prazo muito longo, que é o de 20 anos. Estes mecanismos estão a ser pensados para que todas as famílias que hoje têm televisão possam continuar a beneficiar dos serviços””, explicou Muchanga.

Em Abril do corrente ano, o Governo aprovou a Estratégia de Migração de Radiodifusão Analógica Terrestre para Digital que estabelece o quadro normativo e de financiamento do processo da migração da radiodifusão analógica para digital em Moçambique, entre outros aspectos.

FORCOM estará representado na Comissão de Migração

O Fórum das Rádios Comunitárias (FORCOM) foi proposto como uma das entidades a integrar a Comissão Nacional de Migração Digital nesse seu segundo mandato que termina em 2015, mas decisão final cabe o Conselho de Ministro.

Aquela entidade, assim como outras organizações da sociedade civil, sempre reclamou da exclusão das rádios comunitárias e outros intervenientes nesse processo de migração. A Associação de Defesa do Consumidor é também uma das entidades proposta para integrar aquela comissão.

Fonte: Verdade

Migração Digital em Moçambique atrasada

Moçambique está três meses atrasado no processo de migração digital do sinal televisivo devido à indisponibilidade financeira. Banco de Exportação e Importação da China ainda não transferiu a verba acordada no processo.
Os 220 milhões de euros (cerca de 300 milhões de dólares americanos) concedidos a Moçambique para custear o processo de migração digital da televisão ainda não estão disponíveis, devido a procedimentos burocráticos exigidos pelo Exim Bank (Banco de Exportação e Importação) da China.

A demora na concessão dos fundos impede, por exemplo, a aquisição de equipamentos como conversores e a instalação da rede redundante nas capitais provinciais.
Outra atividade que está dependente da verba é a divulgação deste processo aos cidadãos, segundo Simão Anguilaze, da Comissão de Migração Digital no país, que reconhece haver ainda défice de conhecimento sobre o assunto.
“Já devíamos estar com a rede-piloto a funcionar. É importante porque será um instrumento concreto para a população poder ver realmente o que irá acontecer”, reconhece Simão Anguilaze. “Também nesta altura deveria estar encerrado completamente o dossier de financiamento.”
Fonte: DW

Sobre a Migração Digital em Moçambique

1. A migração é compulsória e calendarizada
2. Melhor experiência /qualidade/ leque de escolha do telespectador
3. Permite mais eficiente exploração do espectro radioeléctrico
4. Todo o operador deve migrar após “apagão” ou fica na ilegalidade e sujeito a interferências
5. Telespectador deve possuir conversor (STB) ou televisor digital

6. Vai ser criado um Operador (Público) de Transporte e Distribuição de Sinal
7. 300 Milhões de dólares americanos são o que vai custar aos cofres do Estado
8. A Exim Bank da China é quem irá financiar a operação
9. A Startimes, empresa chinesa é quem irá operacionalizar o processo de migração digital
10. Os conversores custarão ao cidadão moçambicano, 2 mil meticais
11. O estado não irá subsidiar os conversores
12. O governo ainda está por divulgar a estratégia da migração, faltando pouco menos de 3 meses para o apagão

O jornalismo interpretativo nos jornais semanários e os seus riscos para a qualidade da informação

Por Ernesto Nhanale

Devido às suas características, os jornais semanários têm sido caracterizados por textos do género reportagem interpretativa[1]. Este estilo de reportagem, que se verifica nas últimas décadas em muitos jornais do mundo, vem substituir o estilo descritivo no qual o trabalho principal do jornalista é relatar os acontecimentos, separando os das opiniões individuais.
Contrariamente ao estilo descritivo, no qual os repórteres procuram dar um maior espaço para que os actores das “estórias” para expressarem as suas ideias, deixando que as suas interpretações aos factos sejam feitos em espaços apropriados e claramente identificados, os artigos de opinião; no estilo interpretativo, os factos e as opiniões são misturadas, através das interpretações que os jornalistas procuram dar aos acontecimentos.

De uma forma analítica entre os dois estilos, Patterson (1997) assinala que, em muitos casos, a cobertura interpretativa é feita a partir de um processo de simplificação dos temas, agrupando vários acontecimentos e eventos de campanha dos candidatos, num quadro de enquadramentos interpretativo que os jornalistas procuram dar sobre o sucesso ou não da campanha dos candidatos[2].

Por vários factores, o estilo interpretativo configura-se como o mais predominante nas reportagens que analisamos nas edições dos jornais semanários (Savana, Domingo, Zambeze e Magazine Independente). Uma das consequências deste estilo é que o jornalista é, para além de repórter, um actor que, através das suas interpretações, procura fornecer significados aos acontecimentos que narra. E como qualquer interpretação ou opinião, há uma imensa tendência de uma cobertura não objectiva[3].
Existem diversos casos nas principais reportagens que fazem as manchetes dos jornais semanários onde os jornalistas procuram, a partir de suas próprias interpretações ou enquadramentos dar uma determinada forma a campanha dos candidatos. Podemos seguir alguns desses exemplos, nos quais sublinhamos algumas expressões que consideramos relevantes:

“Verdade seja dita, os comícios realizados pelos camaradas ao longo desta primeira semana de campanha têm muita afluência de muitas pessoas de todos estratos sociais. Para cobrir toda extensão da província, a Frelimo no namoro ao eleitorado, formou 16 brigadas, constituídas principalmente, por jovens e mulheres”. In Jornal Domingo, 07/09/14.

“Supremacia da Frelimo “ABAFA” concorrentes da cidade de Maputo. Na primeira semana da corrida eleitoral, ao nível da cidade de Maputo, foi inquestionável a supremacia do partido Frelimo que pela primeira vez, tem como concorrentes directos o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e a Renamo”. In Jornal Domingo, 07/09/14
”… por detrás de um caloiro há sempre um grande mestre que toca batuque para encobrir a inexperiência do seu caloiro”, Jornal Zambeze, 04/08/2014.

“Fazendo o aproveitamento da recém terminado conflito político militar opondo as Forças de Defesa e Segurança e os guerrilheiros da Renamo, Daviz Simango afirmou que votar conscientemente significa confiar em partidos políticos civis comprometidas com valores da paz, justiça social, económica e desenvolvimento do pais em vários domínios. In Zambeze, 04/08/2014

“Outro aspecto que marca a presente campanha é a diferença de meios materiais entre os concorrentes. A Frelimo em algumas circunstâncias recorre ao estado“ (….)Vários quadros históricos da Frelimo estão empenhados na caça ao voto, o que segundo alguns analistas, indicia que o partido que forma o governo não está seguro do que pode acontecer a 15 de Outubro”. In Savana, 05/09/14

As interpretações feitas pelos jornalistas aos eventos ou às actividades de campanha dos candidatos tendem a produzir avaliações negativas ou positivas sobre o curso da campanha, conforme se pode verificar nas frases sublinhadas. Trata-se de um tipo de cobertura que, logo a partida, condiciona as percepções do público sobre o que é reportado. 

Um dos problemas destas práticas, como argumenta Thomas Patterson (1997), resulta do facto de o jornalista pretender substituir os políticos, transformando-se ele próprio num actor da campanha. Trata-se de uma tendência, não só do nosso jornalismo (como acima o dissemos), que possui implicações negativas na qualidade da informação produzida sobre a campanha eleitoral.
Embora seja uma amostra muito pequena (uma semana da campanha), pode-se notar uma tendência de os jornalistas, nas suas interpretações, produzirem enquadramentos favoráveis ou desfavoráveis aos candidatos, em vez de uma cobertura objectiva e mais baseada no relato dos eventos e actividades dos candidatos. Nota-se ainda, por um lado, o interesse dos jornais em produzir enquadramentos baseados na exaltação das características dos candidatos, uns em relação aos outros; por outro lado, a tentativa de criar cenários dramáticos, nos quais ilustram-se as posições de concorrência entre os candidatos.

[1] O estilo interpretativo assemelha-se às reportagens chamadas analíticas.
[2] Patterson, Thomas E. 1997. “The News Media: An Effective Political Actor?” Political Communication 14:445-455
[3] Definições mais específicas sobre a cobertura não objectiva podem ser encontradas no artigo publicado na edição passada com o título “O partidarismo na cobertura eleitoral. O caso do jornal notícias”, disponível  aqui!

Panorama geral da distribuição da cobertura pelos partidos políticos e candidatos

Análise da primeira semana da cobertura dos media na campanha eleitoral
Ao longo da primeira semana da campanha eleitoral, a análise de conteúdo da cobertura dos media foi realizada em três jornais diários (Notícias, Diário de Moçambique e Opais), nos quatro jornais semanários (Savana, Zambeze, Domingo e Magazine Independente) e num meio de radiodifusão, a Rádio Moçambique. A análise consistiu na avaliação do número de peças assim como ao espaço dedicado aos 30 partidos políticos[1] concorrentes às eleições legislativas e provinciais, assim como aos três candidatos às eleições presidenciais (Afonso Dhlakama, Filipe Nyusi e Daviz
Simango).

Usando a presença do partido ou candidato no título do artigo, como critério de selecção do artigo, foram recolhidos 440 artigos noticiosos publicados nos oito meios de comunicação social analisados. Para o caso dos meios de radiodifusão (Rádio Moçambique) e alguns jornais como o Notícias, com espaços definidos para a cobertura eleitoral, a busca dos artigos foi realizada a partir desses espaços, identificando os que se referem aos partidos políticos e aos seus candidatos.

Tabela 1 – Distribuição da cobertura dos media pelos partidos políticos na primeira semana da campanha eleitoral de 2014.

 

 

 

 

Conforme a tabela 1, contendo a distribuição de frequência dos artigos publicados pelos meios, a Rádio Moçambique é o meio com a maior cobertura (202), seguido dos diários Opais (92), Notícias (59), Diário de Moçambique. Os jornais semanários, pela periodicidade, apresentam o menor número de artigos publicados, circulando entre os cinco (Savana) a 14 (Domingo), artigos publicados sobre as actividades de campanha dos partidos políticos.
Refira-se que estes dados não correspondem ao número de peças/artigos publicados, mas sim ao número de vezes ou espaço em que cada partido ou candidato é reportado no meio. Isto é, existem peças de reportagem que são dedicadas a dois ou mais partidos políticos, estas peças são multiplicadas pelo número de partidos políticos representados, sendo analisado o tempo dedicado a cada um dos partidos políticos. Este facto ocorre também para os jornais semanários que, em muitos casos, reportam, numa única peça, actividades de campanha de dois ou mais partidos políticos/candidatos.
Nesta primeira semana da campanha, nota-se a tendência de uma maior cobertura para as actividades do partido Frelimo (196), seguido do MDM (122) e da Renamo (110)[2] . Em termos dos meios, pode-se verificar esta tendência na RM, Notícias, Diário, Domingo, Opais. Quanto aos semanários, embora com poucos artigos, nota-se uma tendência diferente, a Frelimo com 1 artigo no Savana, comparado com os outros com 2, o Zambeze com 2 artigos para cada um dos partidos.
De uma forma geral, estes são os dados mais relevantes da distribuição quantitativa da cobertura dos candidatos nas eleições. Considerando que, semanalmente, para além das análises quantitativas trazemos alguns comentários e interpretações aos dados, baseando numa das variáveis e em alguns meios seleccionados, esta semana iremos dissertar sobre o tipo e a qualidade da cobertura oferecida pelos jornais semanários.

[1] Concorrem para estas eleições, os seguintes partidos políticos: MDM – Partido Movimento Democrático de Moçambique; RENAMO – Partido Resistência Nacional Moçambicana; FRELIMO – Partido FRELIMO; ALIMO – Partido Aliança Independente de Moçambique; PASOMO – Partido de Ampliação Social de Moçambique; MJRD – Partido Movimento da Juventude para Restauração da Democracia; PIMO – Partido Independente de Moçambique; UASP – Partido União Africana para Salvação do Povo de Moçambique; PLD – Partido de Liberdade e Desenvolvimento; PPD – Partido Popular Democrático de Moçambique; SOL – Partido Social Liberal e Democrático; PAHUMO – Partido Humanitário de Moçambique; PARESO – Partido de Renovação Social; PUMILD – Partido Unido de Moçambique da Liberdade Democrática; PEC-MT – Partido Ecologista Movimento da Terra; PAZS – Partido de Solidariedade e Liberdade; PVM – Partido, os Verdes de Moçambique; MONARUMO – Partido Movimento Nacional para Recuperação da Unidade Moçambicana; PDD/AD – Partido para Paz, Democracia e Desenvolvimento/Aliança Democrática; PARENA – Partido de Reconciliação Nacional; P.P.P.M – Partido do Progresso do Povo de Moçambique; UM – Partido de União para Mudança; JPC – Grupo de Cidadãos Eleitores Associação Juntos pela Cidade; PRDS – Partido de Reconciliação Democrática Social; PT – Partido Trabalhista; PANAOC – Partido Nacional de Operários e Camponeses; MPD – Partido Movimento Patriótico para a Democracia; UE – Coligação de Partidos Políticos União Eleitoral; PASDI – Partido Social Democrata Independente; PUR – Partido da União para a Reconciliação

[2] É preciso notar que a campanha da Renamo iniciou com a ausência do seu candidato, enquanto decorriam as negociações e os preparativos para a sua vinda na assinatura dos acordos de fim do conflito militar que se registou no país. Este dado pode ser importante para compreender de forma relativa a quantidade de cobertura oferecida para a Renamo, uma vez, o seu actor principal ter estado ausente nesta primeira semana da campanha eleitoral.

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