Constantino Luciano Gemusse
Somos da opinião de que em processos eleitorais, a cobertura jornalista deve ser neutra; o jornalista deve procurar construir um discurso equilibrado sempre que possível, despir-se das suas marcas ideológicas para que não entre em conflito com a verdade e a objectividade da narrativa, garantindo assim a pluralidade e diversidade da cobertura jornalística.
As narrativas são dispositivos argumentativos que utilizamos em nossos jogos de linguagem. As narrativas jornalísticas constituem as estratégias organizadoras do discurso jornalístico. Ajuda-nos a compreender a lógica da construção do discurso e dos significados através da reconfiguração do acontecimento jornalístico, seus conflitos, episódios funcionais, personagens, estratégias de objectivação (efeitos de real) e subjectivação (efeitos poéticos) e do “contrato cognitivo” entre jornalistas e audiência.
De acordo com que nos propusemos a discutir e suportando-se nos pressupostos acima referenciados, depreendemos que tanto a media privada assim como a pública, têm uma tendência quase uniforme em construir uma narrativa discursiva com significado manifesto (aparente) sobre objecto (candidato) da Frelimo, expondo tendências e interesses conflituantes. Para além da espectacularização do discurso, denota-se também que há tendência de se construir um discurso simbólico e monossêmico (abertos à poucas interpretações) da parte dos eleitores. E em última analise, tende a construir um discurso visceralmente dominante que tenta-se promover a imagem do candidato da Frelimo de forma ostensivamente positiva.
Contrariamente aos candidatos do partido MDM e da Renamo, o discurso jornalístico tende a tomar um pendor ambíguo, implícito e latente (oculto) sobre os objectos (candidatos), ou seja, os jornalistas não exploram os manifestos e discursos dos candidatos devidamente e também pode-se constatar nas suas narrativas discursivas a questão de vitimização e os alguns constrangimentos decorrentes da campanha e a situação tende acentuar-se na TVM, onde a lógica narrativa do discurso tende a construir sentidos de rotularização, vulgarização, ridicularização dos partidos da oposição mesclados de conflitos e violência, como por exemplo, o foco que a media dá às deserções e as filiações dos militantes dos partidos da oposição à favor do partido Frelimo e o contrário, não acontece. De forma generalizada, tende-se a construir um discurso polissémico (abrindo a múltiplas interpretações e construção de sentido) sobre as imagens dos candidatos e seus partidos no eleitor.
No nosso entender, julgamos que a cobertura jornalista nos processos eleitorais, particularmente em campanhas eleitorais, deve ser neutra, o jornalista deve procurar construir um discurso equilibrado procurando sempre que possível, despir-se das marcas ideológicas no seu discurso para que não entre em conflito com a verdade e a objectividade da narrativa, garantindo assim a pluralidade e diversidade da cobertura jornalística